No período de 16 a 22 de agosto,
Guaçuí se tornou a capital capixaba das artes cênicas, quando realizou o 16º
Festival Nacional de Teatro, reunindo grupos de cinco estados brasileiros: Rio
de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Minas Gerais e Espírito Santo. Todos com
importantes espetáculos que comoveram, causaram reflexão e entretenimento ao
público da cidade e região.
A data escolhida para a
realização do festival coincide com o aniversário do Grupo Teatral “Gota, Pó e
Poeira”, criador e coordenador do evento. E neste ano em que o grupo local
completou 32 anos de existência, as suas mostras de teatro procuraram a
diversidade entre o contemporâneo e os clássicos da dramaturgia nacional,
superando a ausência de recursos do Governo do Estado e contando com o apoio do
executivo e do legislativo municipal.
O público se fez presente. Essa é
uma das grandes conquistas do festival que conta hoje com espectadores vindos
de cidades como Iúna, Muniz Freire, Alegre, Dores do Rio Preto, Divino de São
Lourenço, Varre Sai, entre outros da Região do Caparaó. Porém nota-se um pouco
de distanciamento do público guaçuiense. Não que o Festival tenha caído numa
rotina, e nem que se tenha falhas na divulgação, mas é um fenômeno que tem
ocorrido também em outras apresentações. Os guaçuienses estão mornos nas
questões culturais, o que prejudica na vontade de trazer novos eventos na
cidade. É uma batalha constante levar público aos eventos, mesmo quando são
gratuitos.
Outro aspecto que também chamou
atenção no festival foi a questão dos espetáculos adultos numa conotação mais
forte. Os espetáculos tinham classificação e em cena estavam textos de Nelson
Rodrigues e Plínio Marcos, que exploram a decadência moral das famílias
burguesas e das classes mais miseráveis. É bom que, ao ir ao teatro, o público
tenha conhecimento do que vai ver e não esperem apenas comédias leves,
situações corriqueiras, como em novelas
e outros programas de televisão. O teatro busca ser um espelho da realidade,
que nem sempre todos estão aptos a verem ou querem assistir.
Mas enfim, o festival deixou seu
saldo positivo. Movimentou um pouco os hotéis, bares e restaurantes; trouxe
pessoas para a cidade; divulgou de forma
positiva o nome do município; e oportunizou ao público a assistir a excelentes espetáculos tanto adultos, como
os de rua e os infantis. Nem sempre se tem esse acesso a obras teatrais com
tanta intensidade, principalmente de forma tão econômica. Estudantes de
diversas escolas curtiram os espetáculos e com certeza levaram boas recordações
para suas vidas.
E num ano de crise que também
atinge a cultura, o Festival Nacional de Teatro de Guaçuí superou os obstáculos
e a descrença mostrando que é possível fazer arte neste país, e que ele – o
festival - é mais que um evento pontual,
pois consegue formar plateia e pensamento, em discussões que abordam o social,
o religioso, o econômico, o didático e o puro lazer. Espetáculos como “2
perdidos numa noite suja”, “O noviço”, “Revolta no país dos retalhos”, “A
catadora de sonho”, “Brincando de Circo”, “Zoológicos”, “O encontro das águas”,
“Perdoa-me por me traíres” apresentam reflexões que vão além de simples
gargalhadas ou lágrimas superficiais; trazem a essência da arte como formação
crítica do cidadão, sendo essa uma contribuição que não tem preço.