domingo, 5 de julho de 2015

O LEGADO DE MESTRES DA CULTURA POPULAR

Junho se foi com seus festejos ligados às tradições seculares, com folguedos, comidas típicas, fogueiras, bandeirinhas, muita música e roupas coloridas. Escolas e comunidades se mobilizaram com seus “arraiás” fazendo a festa de estudantes e moradores diversos. E têm muitas festas ainda por acontecer, mesmo em julho e agosto, haja vista que para se dançar quadrilhas ou outros folguedos folclóricos não importa a data e sim manter uma tradição que é super respeitada no Nordeste, mas que por aqui, por intolerância, muitas vezes religiosa, tende a desaparecer.
A arte e a cultura estão acima de questões religiosas. A escola deve ser um lugar para ensinar ao estudante muito mais que conceitos ou fórmulas que estarão no Enem. A escola é um lugar também para aprender costumes, tradições, lendas, mitos e outros elementos artísticos que contribuirão para o educando ampliar sua visão do mundo e das coisas, ou simplesmente desenvolver empatia e desenvoltura. 
Em outros tempos, anos 70 e 80, era comum cada bairro fazer sua festa junina ou sua quadrilha, envolvendo um grande número de moradores. Bandeirinhas se estendiam pelas ruas; fogueiras eram acesas; e casais – após muitos ensaios – dançavam alegremente não se importando se no mês havia Santo Antônio, São João ou São Pedro para comemorar. As festas iam muito além da repressão que as crianças hoje sofrem por discordâncias religiosas de seus pais. Dançar quadrilha era só alegria, e muitos relacionamentos começaram nessas festas, nem sempre amorosos.
Houve uma época em que as obras paralisadas de construção da Prefeitura Municipal de Guaçuí, no centro da cidade, também serviram de palco para inúmeras festas juninas.  Era comum, nos sábados, a construção estar aberta para a realização dos folguedos, sendo uma opção para a comunidade. As escolas eram as principais organizadoras.
E como não lembrar das tradicionais quadrilhas da Rua do Norte, comandada muitas vezes pelo “Tonho Aranha”, e da Rua da Palha pelo “Dinho Soares”? Inúmeras gerações dançaram sob o comando desses mestres da cultura popular, mas que hoje passam despercebidos pelas novas gerações.
As comunidades rurais também perderam muito. Talvez por se apoiarem somente no Poder Público para realizar suas festas. São Tiago, Santo Antônio, São Felipe, São Romão, São Pedro, Fazenda Aparecida, entre muitas, sempre reservavam uma data no mês para fazerem suas quadrilhas. Eram momentos em que a comunidade se integrava e os percalços do dia a dia eram esquecidos.
Entre as inúmeras quadrilhas, era destaque a Quadrilha Ouro e Prata, liderada por Nenêm Moreira, sendo sucedido depois pela viúva Guiomar Soares. Ali, no terreiro da fazenda, próximo do Assentamento, além da dança constantemente ensaiada, havia ainda calouros, dublagens, outras coreografias, shows e homenagens. Quem ia para lá fazer cobertura jornalística, colocar som, fotografar ou filmar se deparava com uma “janta” no melhor estilo, no fogão a lenha, de onde saíam as inesquecíveis carnes da “lata”, principalmente de porco. Era um banquete!

Bom... junho já passou. Melhor agora se concentrar nas comemorações de 200 Anos de História de Guaçuí, que começam a ser comemorados em 15 de julho.